segunda-feira, 4 de março de 2013

A SOCIEDADE DA COMPLEXIDADE


A SOCIEDADE DA COMPLEXIDADE
Por Marco Bastos

" La antigua patología del pensamiento daba una vida independiente a los mitos y a los dioses que creaba. La patología moderna del espíritu está en la hiper-simplificación que ciega a la complejidad de lo real. La patología de la idea está en el idealismo, en donde la idea oculta a la realidad que tiene por misión traducir, y se toma como única realidad. La enfermedad de la teoría está en el doctrinarismo y en el dogmatismo, que cierran a la teoría sobre ella misma y la petrifican. La patología de la razón es la racionalización, que encierra a lo real en un sistema de ideas coherente, pero parcial y unilateral, y que no sabe que una parte de lo real es irracionalizable, ni que la racionalidad tiene por misión dialogar con lo irracionalizable." (EDGAR MORIN)


Vivemos cada vez mais em uma Sociedade que está sob a égide dos 'fenômenos complexos'. Parece que a necessidade de reconhecer e agir em conformidade com isso, no campo econômico-social, hoje é subestimada e por isso, talvez, tal complexidade seja menosprezada pelo senso comum que é suficientemente arrogante para considerar que de tudo entende. Vemos o mundo pela lente dos nossos paradigmas.

As Ciências Físicas gradualmente esgotaram ou superaram a descrição determinística, das ações e reações, das causas e efeitos, mecanicista, para melhor entenderem os seus fenômenos e controlarem os seus processos. Da Mecânica Clássica, da Mecânica Celeste meramente descritiva evoluiu-se para os modelos probabilísticos, para a Física Quântica e Relativista, com Plank, com Einstein, com Heisenberg que enunciou e demonstrou o Princípio da Incerteza, e do micro ao macro, entrou-se na intimidade da matéria e remodelou-se o Espaço, através de uma nova Astrofísica.
O Espaço é como é por conter o que contém, e contém o que contém por ser como é. A Invariância de Escala a definir os modelos de auto-semelhança tal qual nos fractais, espelha a ordem no caos.

A Cosmologia no seu périplo cosmogônico aproximava-se do que se intui seja o Tao - na coexistência, interação e interpenetração dos opostos, no todo inseparável, matéria-tempo-espaço, porque afinal a Ciência não esterilizou ou aboliu a intuição humana. Ao que parece o Tao é a essencial não-essência do agnóstico.

Geometria dos espaços multidimensionais, Riemann, Física Relativista, enorme esforço intelectual para aprimorar os modelos e para submetê-los ao que se compreende, ao que se percebe ou se verifica como sendo "realidade". Para isso foi preciso eliminar ao máximo aqueles conceitos subjetivos e abstratos que criam elementos artificiais inexistentes na Natureza e que teriam sido "construídos" para dar consistência intrínseca aos modelos incompletos.

Assim ruíram várias teorias nos campos da Física e das Ciências Naturais, das Ciências Biológicas e impõe-se o Mundo do objetivismo e da objetividade. 

A Termodinâmica encontrou na Entropia a medida para o caos. Os modelos dos Gases Ideais alcançaram os seus limites e preponderaram a Teoria Cinética dos Gases probabilística e o empirismo das Equações dos Gases Reais.

Na Ciência do Conhecimento e da Inteligência, Cibernética, Wiener nos fala do mundo "contingente e probabilístico" e propõe que a Informação seja nos sistemas sociais o equivalente à entropia dos sistemas físicos.

No Holismo, na Ecologia, o célebre: "bater das asas de uma borboleta na Ásia resultando em um tsunami na América Latina", metáforas ou meras intuições, a nos falarem sobre equilíbrio estável, aquele que permite retornar à posição inicial os Sistemas que modificaram o seu estado e, por recorrência e fechamento, também sobre o equilíbrio instável, no qual o estado de equilíbrio nunca seria naturalmente recuperado, uma vez o Sistema se desequilibrasse.

Na Filosofia, na Metafísica, a Dialética Idealista cede espaço à Dialética Materialista, e essa mesma Dialética, deu origem a um processo que transforma a Filosofia em ideologia. No entanto, ao se tratar do Conhecimento, toda ideologia conduz à cristalização de paradigmas e ao distanciamento do homem-como-é do seu mundo-como-é: estado, processo, potência e ato. Sabemos que ambos, homem e mundo são capazes de mudanças e a compreensão e o entendimento da realidade momentânea, efêmera, transiente e transitória pressupõe a permeabilidade e a flexibilidade que a ideologia costuma neutralizar. Tese, antítese e na síntese aquela dialética trazia em seu bojo a demonstração da sua lucidez e da completude do seu modelo: na própria tese havia a antítese imobilizando-a (através da ideologia).  

Em tempos tão confusos, nova Idade das Trevas (?), toda a aspiração humana passa a ter um objetivo meramente econômico que pleiteia e prescreve o crescimento da riqueza material, ou a transferência de renda entre as classes sociais ou as duas coisas simultaneamente. 
As verdades apriorísticas, éticas, Liberdade, Fraternidade, Igualdade, teriam que comprovar a sua eficaz veracidade, transformando a Humanidade de forma, ou como se, o Homem fosse Igual, Fraterno e Livre. 
Nesse caso ao que parece o modelo superpõe-se ao que se constata embora isso não anule a possibilidade de acontecer essa verdade no devir.

A Economia coopta a Filosofia e a substitui na função de definição dos valores. Nietzsche nos fala sobre a Genealogia da Moral e alerta que o 'bom' corresponde ao 'bônus' latino, recompensa monetária; sinédoque de número, o todo pela parte. 

O estado de "bem-estar", o sentido de progresso e evolução associou-se principalmente à capacidade de "consumir" coroada sobre outras conquistas em outros campos tais como o da saúde, da educação, da segurança, etc. 
A "mão invisível", imagem do próprio bio-sócio ectoplasma, com Adam Smith ou a intervenção do Estado sobre a Economia, com Keynes ou Marx, regulando sobre a riqueza, emprego e renda, incumbir-se-iam de propiciar que tal estado de prosperidade e bem-estar fosse alcançado.

O Pensamento ocidental transitou de Sócrates, Platão e Aristóteles, para Kant, Hegell, Engels e Marx, como idéias principais. As variantes periféricas, as ideias e percepções de outros filósofos intimistas, religiosos e existencialistas foram menos condicionantes, e menos sistematizadoras no que se refere a se converterem em dogma e práxis social e política. Para o  teísta Teillard de Chardin a evolução se dá em direção à crescente complexidade (convergindo para Deus).

Na linha dos que acreditam que "as nádegas reequilibraram o corpo e, libertando as mãos do Homo Erectus, permitiram que pela utilização das mãos se desse o desenvolvimento da capacidade cerebral", a Filosofia e a Economia se unificam e o "conhece-te a ti mesmo" agora tem um objetivo no aqui e no agora: fazendo o pobre menos pobre e o rico menos rico, todo o drama humano estaria resolvido com os dogmas dos dois capitalismos, o do Estado e o Privado. 
Para os espoliados pelo grande Leviatã ou engolidos no capitalismo do time-is-money, a outra facção político-filosófica se apresentava como tábua de salvação, e revestia-se, por conseqüência, de pretensas qualidades libertárias e niveladoras dos desequilíbrios sociais.

Não mais Gestalt, agora Behaviorismo. Não mais Filosofia, agora Sociologia e Ciências Políticas e dentre essas a Economia. O Homem colocou-se ou se descobriu no centro do Universo. Não mais interessava conhecer e entender o Conjunto, mas sim administrar os relacionamentos para gerar comportamentos adequados. E a Ciência Social andou no sentido inverso ao das Ciências Físicas.

De fato, pela ignorância e limitação dos meios e da parca capacidade de estruturação de soluções, as Ciências Físicas iniciaram o seu "corpo de ciência" no campo do empirismo Operacional e a partir daí evoluíram para a compreensão do Universal. 
As Ciências Sociais e em particular a Filosofia, iniciaram suas perquirições no campo do Universal e reduziram-se ao campo do Utilitarismo, satisfazendo-se por pretensamente conseguirem domar o Capital, subjugando valores morais e éticos ou os ajustando ao que se pretendia que fosse o Homo Economicus.

Pobres políticos, que se colocam como condutores da História. Nepotismo, corrupção, ausência de referenciais e de valores morais e éticos. Fisiologismo do "toma-lá-dá-cá", "é dando que se recebe", em tudo parecendo os jogos de meninos. Pretensos líderes, ingênuos arrogantes sem espelho, se fartando no poder. Precisam conhecer Edgar Morin.

A Humanidade com o desenvolvimento das Ciências da Saúde, Nutricionais, da Química, da Física, da Engenharia e Urbanismo etc., por ter alcançado condições materiais de saúde, habitação, trabalho e vida mais saudáveis encontra-se em um processo de explosão populacional sem precedentes. Tal processo vem acompanhado ou produzido pelo relaxamento dos referenciais culturais, dos valores morais, éticos, e de responsabilidade social. Ao que parece somente a pequena-burguesia não praticou ao longo da História a liberdade sexual e as populações nas classes materialmente menos aquinhoadas sempre foram desproporcionalmente maiores.   

Ao lado desse crescimento populacional desenfreado acrescente-se a "mentalidade" e a significância do valor social dado à capacidade de consumir assoprada pela efetividade das Ciências da Comunicação e da Indústria da Publicidade - alcança-se como querem os economistas uma elevada propensão marginal ao consumo. 

Chegamos à uma equação já antiga, formulada por Malthus, mas não denominada de Equação da Inconseqüência : Inconseqüência = excesso de população + consumismo.

E a quem satisfaz essa equação?

O crescimento da Inconseqüência satisfaz ao Capitalismo do Time-is-Money por representar vendas crescentes e consequentemente elevação da remuneração do capital (lucros).

O crescimento da Inconseqüência satisfaz ao Capitalismo do Estado tendo em vista que massas populacionais significativamente grandes e crescentes são dependentes do Estado, legitimam o discurso populista das esquerdas, dão consistência a esses regimes políticos e fortalecem o poder e o status-quo.

Como ao Homo-Sapiens restou apenas o valor representado pelo 'ter' e pela capacidade de consumir, seria de se esperar que o Império da Inconseqüência se implantasse. Thanatus e Eros se apaziguaram e o mundo hedonista cuidaria para que afinal o Homem fosse feliz.

Se os sete bilhões vivessem como os paulistanos, três planetas-Terra seriam necessários para disponibilizar os recursos materiais.
Ultrapassado o limiar da dor, mais dor não é sentida.

O que escrevi acima foi só para organizar meus pensamentos e na impossibilidade de tratar a imensa variedade de situações, me atenho somente àquelas que independem de Estatísticas, são compreensíveis pela própria vivência diária de todos nós, e apontam para a existência de desequilíbrios incontestáveis.

O CAOS NO MEIO AMBIENTE. 
Insalubridade e poluição, esgotamento e comprometimento de fontes de recursos, desorganização urbana, favelas, incluindo a saturação no trânsito nas áreas com maior concentração demográfica a gerar stress e ônus pelo comprometimento do tempo de 30% ou mais das horas normais de trabalho - tributo que a população paga ao Estado mal gerido. Catástrofes climáticas e ambientais. Deslocamento das pessoas para os grandes centros - é absurdo o vazio dos campos, o despovoamento do interior e ao mesmo tempo haver a degradação das condições de vida nas cidades grandes.

O CAOS NO SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL.
Os capitais fungíveis e as explicações para a enorme amplitude de variação na cotação dos ativos no mercado de capital. Os déficits, o nível de desemprego, e as tentativas desesperadas de evitar a ruptura total do sistema financeiro através de orçamentos fabulosos. O entrechoque das opiniões. O desabastecimento. O estado precário de saúde, de nutrição, de educação e da capacidade de inserção no sistema econômico de grandes contingentes populacionais.

O CAOS NAS INSTITUIÇÕES.
Invasão de repartições públicas e organizações privadas. O recrudescimento de movimentos sociais, a inércia dos governos. Migração de populações. A violência urbana. As organizações paramilitares, o crime organizado. Guerras,  genocídio, e êxodos forçados de sobreviventes.

É sobre essa poesia que nós pobres poetas devemos nos debruçar, sem, no entanto descambarmos para a arte engajada, desde que não queremos estar a serviço das mesmas forças que degradam a Humanidade. Não dá mais para nos encantarmos somente com os relacionamentos amorosos, com o corpo humano e com a libido, esquecendo-nos do mundo em que vivemos. E, no entanto, não devemos desprezar o que enfeita a vida e a faz mais bela e saudável.